
O acidente aéreo de hoje, 12 de junho de 2025, com o Boeing 787-8 Dreamliner registrado sob a matrícula VT-ANB, da empresa aérea Air India, marca um triste momento para uma história de 15 anos de operações da família de aeronaves Boeing 787 sem acidentes com mortes.
Apesar de alguns incidentes e acidentes com esse que é o mais moderno avião widebody (fuselagem larga) da Boeing em operação comercial, o 787 tem se mostrado altamente confiável e bem-sucedido.
Assim, é necessária uma dose de cautela antes de fazer qualquer acusação em relação à ocorrência de hoje. É importante ressaltar que um acidente aéreo pode ter como causa(s) uma infinidade de motivos, que podem ir desde falhas relacionadas ao projeto até erros decorrentes apenas de aspectos da operação do equipamento pela empresa aérea, pilotos, mecânicos e/ou outras pessoas e instituições envolvidas.
Logo, apenas para um aprofundamento de informações relacionadas ao avião e ao modelo, temos:
Sobre o VT-ANB
O VT-ANB é um avião da variante 787-8, o menor modelo da família Boeing 787, que possui também as versões 787-9 e 787-10.
Este exemplar teve a fabricação concluída em dezembro de 2013 e foi entregue à Air India em 28 de janeiro de 2014. Começou os voos comerciais em 7 de fevereiro daquele ano, portanto, possuía pouco mais de 11 anos e 4 meses de operações.
A aeronave foi tirada de operação em novembro de 2019, mas voltou a voar a partir de junho de 2020.
Antes do acidente de hoje, o VT-ANB vinha operando normalmente diariamente há semanas, segundo os registros das plataformas de rastreamento online de voos. As últimas operações foram:
– um voo de quase 9 horas de Paris, na França, a Nova Déli, na Índia, entre a tarde de ontem e a madrugada de hoje;
– uma parada de pouco mais de 8 horas em Nova Déli;
– um voo hoje de pouco mais de 1 hora de Nova Déli a Ahmedabad;
– uma parada de pouco mais de 2 horas em Ahmedabad seguida da decolagem para o voo AI-171, que terminou no acidente aéreo.
Ocorrências com Boeing 787
O histórico de ocorrências com a família Boeing 787, todas sem nenhuma vítima fatal, é o seguinte:
Um Boeing 787 da Japan Airlines (JAL) apresentou um vazamento de combustível em 8 de janeiro de 2013, e seu voo de Boston foi cancelado.
No dia seguinte, a United Airlines relatou um problema em um de seus seis 787, relacionado à fiação próxima às baterias principais. Logo, o Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA (NTSB) abriu uma investigação de segurança.
Vazamentos de combustível também ocorreram em 11 de janeiro de 2013 e em 13 de janeiro de 2013, no Aeroporto Internacional de Narita, nos arredores de Tóquio. Aparentemente, a aeronave era a mesma que havia apresentado vazamento de combustível em 8 de janeiro. O ministério dos transportes do Japão também iniciou uma investigação.
Em 11 de janeiro de 2013, a istração Federal de Aviação dos EUA (FAA) concluiu uma revisão abrangente dos sistemas críticos do 787, incluindo projeto, fabricação e montagem. O secretário do Departamento de Transportes, Ray LaHood, afirmou que a istração estava procurando pelas causas raízes por trás dos problemas. O chefe da FAA, Michael Huerta, disse que, até aquele momento, nada encontrado sugeria que o 787 não fosse seguro.
Em 12 de julho de 2013, um incêndio começou em um Boeing 787 da Ethiopian Airlines vazio, estacionado no Aeroporto de Heathrow, antes de ser extinto pelo serviço de bombeiros e resgate do aeroporto. Nenhuma lesão foi registrada. O incêndio causou danos extensos de calor à aeronave. A investigação inicial não encontrou ligação direta com as baterias principais da aeronave. Investigações posteriores indicaram que o incêndio foi causado por baterias de dióxido de lítio-manganês que alimentavam um transmissor localizador de emergência (ELT).
O Air Accidents Investigation Branch (AAIB) do Reino Unido emitiu um boletim especial em 18 de julho de 2013, solicitando que a FAA dos EUA garantisse que o localizador fosse removido ou desconectado nos Boeing 787 e revisasse a segurança dos sistemas ELT alimentados por bateria de lítio em outros tipos de aeronaves. Em 19 de agosto de 2015, a Associated Press informou que o incêndio foi causado por um curto-circuito devido a fios cruzados localizados sob a bateria.
Em 26 de julho de 2013, a All Nippon Airways (ANA) disse ter encontrado danos na fiação de dois localizadores ELT de 787. A United Airlines também relatou ter encontrado um fio comprimido em um localizador de 787.
Em 14 de agosto de 2013, a mídia relatou uma falha no extintor de incêndio de motor que afetou três aeronaves da ANA, o que fez com que os extintores descarregassem no motor oposto ao acionado pelos pilotos. O defeito foi causado por um erro de montagem do fornecedor.
Em 22 de novembro de 2013, a Boeing emitiu um aviso para as companhias aéreas que utilizam motores GEnx da General Electric nos modelo 787 e 747-8 para evitarem voos próximos a tempestades de grande altitude, devido ao aumento do risco de formação de gelo nos motores. O problema era causado pelo acúmulo de cristais de gelo logo atrás do ventilador (fan) principal, causando uma breve perda de empuxo em seis ocasiões.
Em 14 de janeiro de 2014, uma bateria em um 787 da JAL emitiu fumaça pelo escape de proteção da bateria enquanto a aeronave ava por manutenção pré-voo no Aeroporto de Narita, em Tóquio. A bateria derreteu parcialmente no incidente. Uma de suas oito células de íon-lítio teve sua válvula de alívio aberta e o fluido foi lançado dentro do compartimento da bateria. Foi posteriormente relatado que a bateria pode ter atingido uma temperatura de até 660 °C, e que a Boeing não entendia a causa raiz da falha.
Em 21 de janeiro de 2014, um Boeing 787 da Norwegian Air Shuttle apresentou vazamento de combustível que causou um atraso de 19 horas em um voo de Bangkok para Oslo. O vazamento se tornou conhecido pelos pilotos somente depois que ageiros preocupados alertaram. Posteriormente, descobriu-se que uma válvula defeituosa era responsável.
Esse vazamento de combustível foi um dos inúmeros problemas enfrentados pela frota de 787 da Norwegian Air Shuttle. Mike Fleming, vice-presidente da Boeing para e e serviços do 787, posteriormente se reuniu com executivos da Norwegian Air Shuttle e expressou o compromisso da Boeing em melhorar a confiabilidade operacional do 787, dizendo que “não estamos satisfeitos com o desempenho do avião hoje, voando com uma média da frota de 98%. O 777 hoje voa com 99,4% e esse é o benchmark que o 787 precisa alcançar.”
Em março de 2016, a FAA acelerou a emissão de uma diretriz de aeronavegabilidade em resposta a relatos indicando que, sob certas condições climáticas, “pode ser exibida velocidade do ar incorretamente baixa”. Houve preocupação de que “entradas abruptas dos controles por parte dos pilotos nessa condição poderiam exceder a capacidade estrutural da aeronave.” Os pilotos foram orientados a não aplicar “movimentos grandes e abruptos na coluna de comando” em caso de uma queda “não realista” da velocidade indicada.
Em 22 de abril de 2016, a FAA emitiu uma diretriz de aeronavegabilidade após um incidente em 29 de janeiro, no qual um motor General Electric GEnx-1B PIP2 sofreu danos e perda de potência irrecuperável enquanto voava a uma altitude de 20.000 pés. Os danos provavelmente foram causados por um desequilíbrio do fan resultante do desprendimento de gelo acumulado no próprio fan.
Em 18 de junho de 2021, um Boeing 787-8 da British Airways, matrícula G-ZBJB, sofreu espontaneamente o colapso do trem de pouso dianteiro no Aeroporto de Heathrow, em Londres, enquanto estava parado no Stand 583. Fotografias que circularam após o incidente mostraram a aeronave apoiada sobre o nariz, com alguns danos à porta do trem de pouso dianteiro. Não havia ageiros a bordo, e o voo estava sendo carregado com carga para um voo exclusivo de carga de Heathrow para o Aeroporto de Frankfurt no momento do incidente.
O Air Accidents Investigation Branch (AAIB) do Reino Unido determinou que um pino inserido de forma incorreta, usado durante a manutenção de rotina para evitar o recolhimento do trem quando o sistema hidráulico é acionado, foi a causa da ocorrência.
Em 11 de março de 2024, o voo 800 da LATAM Airlines sofreu uma queda repentina de altitude, resultando em 50 feridos a bordo e 12 pessoas com ferimentos graves hospitalizadas.
As investigações, ainda em andamento, sobre o que levou a essa queda brusca começaram a focar em um interruptor localizado na parte de trás do assento do comandante, que a comissária acidentalmente pressionou enquanto servia uma refeição ao piloto.
Esse interruptor, exclusivo do 787 Dreamliner da Boeing, permite que as comissárias movam o assento do piloto para frente ou para trás em caso de emergência médica. O interruptor possui uma capa protetora projetada para evitar movimentos acidentais.
Atualmente, mais de 1.189 aeronaves da família Boeing 787 foram entregues a clientes por todo o mundo, sendo 398 do modelo 787-8, outras 670 do 787-9 e 121 do 787-10. A Air India possui outros 32 exemplares além do VT-ANB, sendo 25 do 787-8 e 7 do 787-9.
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