
Em outubro do ano ado, um Boeing 787 Dreamliner da Avianca precisou ser desviado após problemas de pressurização, e agora foi descoberto o motivo, uma vez que o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) de Portugal divulgou um relatório preliminar.
O voo AV-46 da Avianca em 31 de outubro de 2024, operado com o Boeing 787-8 de matrícula N785AV, enfrentou um incidente relacionado ao sistema de pressurização durante o trajeto entre o Aeroporto de Bogotá, na Colômbia, e o Aeroporto de Madri, na Espanha.
Dinâmica do caso
Às 13h20 no horário de Greenwich (GMT/UTC), a aeronave decolou de Bogotá com destino a Madri. Durante voo no nível de cruzeiro de 42 mil pés (12.800 metros), a tripulação recebeu o alerta “L GEN DRIVE L2”, seguido da falha do sistema de ar condicionado esquerdo (“Left pack”).
Como resposta, a APU foi acionada e iniciou-se uma descida controlada para 41 mil pés. Naquele momento, a altitude da cabine (pressurização) era de 6.100 pés.
Por volta das 19h55, ao cruzar de 41 mil para 40 mil pés, a tripulação decidiu realizar uma “descida rápida” para 34 mil pés com o objetivo de reiniciar o sistema de ar condicionado esquerdo.
Dois minutos depois, a aeronave estava a 22.883 pés, momento em que o sistema esquerdo foi desativado, elevando a altitude da cabine para 10.100 pés. A altitude da cabine atingiu o pico de 11.370 pés, acionando o alarme “CABIN ALTITUDE”.
A tripulação seguiu os procedimentos, incluindo a colocação das máscaras de oxigênio, e realizou uma descida para 10 mil pés, declarando emergência ao controle de tráfego aéreo.
Apesar de a altitude da cabine não ter ultraado 14 mil pés, as máscaras de oxigênio dos ageiros foram acionadas manualmente. Em coordenação com as operações, a tripulação decidiu alternar para o Aeroporto de Ponta Delgada, nos Açores, onde pousaram sem mais incidentes.
Investigações técnicas
Ao contrário da maioria das aeronaves comerciais, que executam a pressurização por sistema pneumático, o Boeing 787 utiliza um sistema de pressurização elétrico, alimentado por quatro geradores (VFSG – Variable Frequency Starter Generator), sendo dois para cada motor.
Esses geradores fornecem energia aos compressores de ar da cabine (CACs), que pressurizam a aeronave. Dados do Flight Data Recorder (FDR) revelaram que ambos os compressores do sistema esquerdo falharam devido à sobrecarga causada pela falha do gerador VFSG L2.
A Boeing informou que, após a perda de energia do VFSG L2, o CAC L2 foi automaticamente desconectado, e a tentativa de reiniciá-lo sem energia suficiente resultou na falha do CAC L1. A sobrecarga de um CAC pode impactar o adjacente devido à recuperação de pressão.
Manutenção recente e fatores contribuintes
O incidente ocorreu três voos após uma grande manutenção realizada entre os dias 02 e 27 de outubro de 2024. Durante esse período, trabalhos extensivos foram feitos nos sistemas de ar condicionado, incluindo os ventiladores de recirculação.
Foi identificado que um duto de recirculação do sistema direito foi instalado incorretamente, causando vazamento significativo de ar. Problemas relatados em um voo anterior também indicaram dificuldades no controle de temperatura da cabine.
A manutenção foi considerada desafiadora devido à área de trabalho restrita. A companhia aérea está trabalhando para solucionar as questões de segurança relacionadas ao prestador de serviços de manutenção (MRO).
Próximos os
O gerador VFSG L2 foi enviado ao fabricante, CRANE, para análise detalhada. O operador e o fabricante continuarão colaborando para determinar a causa-raiz do incidente e implementar melhorias necessárias para evitar recorrências. O GPIAA continuará acompanhando o caso e emitindo recomendações de segurança com base nas conclusões finais da investigação. O relatório preliminar está disponível neste link.