
A fabricante brasileira Embraer não deve mudar os rumos do seu crescimento, apesar do tarifaço anunciado ontem pelo presidente americano Donald Trump.
Com essa mudança, todos os produtos brasileiros, incluindo aviões, serão taxados em 10% ao chegarem aos EUA. O que inicialmente pode parecer uma notícia ruim pode, na verdade, representar uma vantagem para a Embraer.
A medida afetará de fato apenas os jatos E175-E1, líder regional do mercado americano, sendo hoje a única aeronave fabricada que pode ser operada por companhias aéreas terceirizadas nos EUA. O CEO da Embraer já havia antecipado ao AEROIN essa posição privilegiada da fabricante, destacando que ou as companhias americanas compram jatos brasileiros, ou não voam.
No mercado executivo, há ainda mais tranquilidade, já que todos os jatos Phenom 100 e Phenom 300, também líderes em suas categorias, são fabricados exclusivamente em Melbourne, na Flórida. Assim, a taxação envolveria apenas os componentes montados no Brasil e enviados para os EUA, mas não a aeronave como um todo.
Isso reduz significativamente o impacto do aumento tarifário no valor total da aeronave, tornando improvável que o acréscimo chegue a 10% para o “consumidor final”, seja ele o proprietário de um jato executivo ou uma companhia aérea, que pode obter descontos por compras em grande quantidade ou optar por um financiamento, diluindo o custo adicional.
Por outro lado, a Airbus também se beneficia de uma vantagem semelhante: no Alabama, são montadas aeronaves A220, A320neo e A321neo, que, inclusive, são entregues para companhias aéreas brasileiras. Esses jatos não serão afetados pela taxação de 20% sobre produtos vindos da Europa ou de 25% sobre aqueles vindos do Canadá. O A220, originalmente um projeto da canadense Bombardier, pode ter alguns de seus componentes taxados, assim como os da Embraer.
A incerteza da taxação gira em torno dos A330neo e A350XWB, montados exclusivamente na França, que ou a ter uma taxação de 20% sobre todos os seus produtos.
Por outro lado, a única concorrente nesse setor de jatos maiores é a Boeing, que pode ser severamente prejudicada caso outros países adotem medidas tarifárias em retaliação. Isso afetaria especialmente suas exportações de aeronaves de grande porte, um risco já alertado pela AerCap, maior empresa de leasing de aviões do mundo, com mais de 1.700 jatos próprios alugados para companhias aéreas globais.
Como o Brasil, inicialmente, não adotará tarifas recíprocas, o custo para a GOL incorporar aeronaves 737 MAX ou para a LATAM incorporar A320 fabricados nos EUA não deverá mudar no curto prazo.
Até que haja uma definição completa sobre as reações dos países, que podem incluir negociações específicas e até “brechas propositais” nas regras, é difícil afirmar se o mercado aeronáutico será de fato impactado pelas recentes decisões de Trump.