
A Air Canada foi condenada a pagar uma “pequena quantia” após barras de ouro sumirem após o desembarque de seu voo. O roubo, que é tido como o maior da história dos aeroportos canadenses, aconteceu em 17 de abril de 2023, quando um Boeing 777-300ER da Air Canada pousou no Aeroporto Internacional de Toronto, oriundo de Zurique.
No porão da aeronave estava uma valiosa carga de 24 barras de ouro e milhares de notas de várias moedas, incluindo dólares canadenses. A carga havia sido enviada da Suíça para repatriação de dinheiro de um banco local.
A responsável pelo transporte foi a transportadora de valores Brink’s, que por sua vez contratou a Air Canada para realizar o transporte aéreo. Porém, na hora em que o carro-forte da Brink’s chegou ao Aeroporto de Toronto, a carga já não estava mais lá.
Uma investigação foi iniciada pela polícia local, que identificou que, cerca de duas horas e meia depois do pouso do Boeing 777, um suspeito chegou às instalações de carga da companhia em um caminhão, dando ré para o local de carregamento antes de se aproximar do depósito com o documento fraudulento.
Este documento era uma cópia de uma ordem de carga de peixes, que era legítima, mas a carga de pescado havia sido retirada mais cedo no mesmo dia.
Por uma falta de uma conferência detalhada pela segurança na entrada, o suspeito teve o liberado até a área de cargas, e com a ajuda de um funcionário da Air Canada, carregou o caminhão com todas as 24 barras de ouro, avaliadas em US$ 14,5 milhões de dólares americanos e com peso bruto de 400kg.
A investigação em parceria com a Agência Americana de Armas, Álcool, Tabaco e Explosivo (ATF) resultou em 37 diligências com busca e apreensão, sendo que seis pessoas foram presas, duas delas eram funcionários da Air Canada.
A carga de ouro, porém, nunca foi encontrada, já que o caminhão foi rastreado por câmeras de filmagem até chegar numa rodovia numa área rural, de onde não foi possível definir seu destino final e ponto de descarregamento.
Os policiais acreditam que o ouro foi rapidamente derretido, transformado em diversas joias e enviado para a Ásia, especificamente para os Emirados Árabes Unidos e Índia.
A polícia conseguiu recuperar apenas $ 430 mil dólares canadenses, que acreditam ser uma pequena parte do pagamento que os criminosos receberam pela venda da carga, e não as notas que estavam no carregamento em si.
Como a carga não foi entregue ao banco, a Brink’s precisou acionar o seguro e pagar o seu cliente. Se sentindo lesada, a empresa de transporte de valores processou no ano ado a Air Canada, alegando negligência da companhia, principalmente pelo fato da companhia aérea não ter tomado o cuidado devido e ter funcionários envolvidos no esquema criminoso.
Em sua defesa, a Air Canada alegou que não sabia da cooptação de seus funcionários, e que a Brink’s não apresentou nenhum documento que informasse o valor da carga, e por isso não teria obrigação de pagar um montante além do valor padrão de extravio.
A empresa de transporte de valores chegou a apresentar em juízo um documento mostrando o valor declarado, porém este papel era de uso da receita federal canadense, e não chegou até a companhia aérea. A Air Canada apresentou o comprovante enviado pela Brink’s que constava “Notas Bancárias” na descrição dos itens e o campo valor declarado estava marcado como “Não constante”.
Com isso, o juiz decidiu que a Air Canada deve pagar $ 18.600 dólares canadenses, equivalente à US$ 13 mil dólares americanos, ou seja, apenas 0,09% do valor total da carga.
Este valor estipulado pelo juiz baseado no limite global estabelecido por convenção da ICAO, que estabelece o valor máximo de $9.988 XDR (Direito Especial de Saque, ou DES no Brasil) para reembolso referente ao peso da carga transportada pela Air Canada, independente do conteúdo e desde que o valor não esteja declarado previamente.
É comum que pessoas físicas e jurídicas não declarem o valor total da carga, seja por questão de sigilo, para evitar pagar o seguro extra requerido ou evitar uma recusa da companhia aérea pelo alto valor. A transportadora de valores envolvida no caso de Toronto é a mesma que foi alvo de criminosos no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, no ano de 2019: