
Semana Safety, etapa Recife (PE), realizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), reuniu mais de 250 pessoas para debater os desafios e avanços na segurança operacional, com foco na região Nordeste do país. Durante três dias, palestras e painéis abordaram temas essenciais para o fortalecimento da cultura de segurança na aviação civil brasileira.
Na abertura do evento, o diretor da ANAC, Luiz Ricardo Nascimento, destacou a importância de ouvir os profissionais do setor e reforçou o compromisso da Agência em aprimorar o sistema de segurança operacional. “Precisamos ver o Brasil como um todo. Queremos ouvi-los, porque precisamos trabalhar em conjunto por uma aviação mais segura”, afirmou.
Em seguida, no “Cultura de Segurança Operacional”, Gérson Costa, coordenador de Promoção e Melhoria Contínua da ANAC, enfatizou que a segurança é uma responsabilidade coletiva: “Todos precisam estar conscientes e participar da implementação de uma cultura forte de segurança”.
Segundo Gérson, a criação de uma cultura sólida traz benefícios como a redução de acidentes, maior motivação das equipes e mais eficiência operacional. Bernardo Castro, chefe da Assessoria de Segurança Operacional da Agência, apresentou o Programa Brasileiro de Segurança Operacional (PSO) e a estrutura de governança da ANAC para monitoramento e melhorias no setor, realizadas por meio do Comitê Interno de Safety, com foco na eficácia, na identificação e na resolução de deficiências sistêmicas das organizações que possam afetar a segurança da aviação civil.
A presidente do Grupo Brasileiro de Segurança Operacional (Bgast), Luciana Carpena, ressaltou a importância da aviação geral, com destaque para operações realizadas em destinos complexos e únicos, além das atividades de resgate. Ela também falou sobre a necessidade de compartilhamento de informações para o desenvolvimento do setor na região.
Já Maurício Alves, coordenador de Segurança Operacional da Azul Conecta, abordou o gerenciamento de riscos e a necessidade de simplificação dos dados coletados nos Relatórios de Prevenção (RelPrev). O objetivo é apresentar formas mais íveis de aplicação dos resultados, com base na gestão dos relatos de operadores sobre incidentes ou acidentes no setor.
Operações clandestinas e seus riscos para a aviação
Na palestra sobre o impacto das operações clandestinas, Edvaldo Oliveira, gerente de Operações da ANAC, apresentou dados sobre ações de fiscalização e destacou a importância das denúncias para coibir práticas irregulares de serviços de táxi-aéreo. “A denúncia é uma ferramenta fundamental para as ações de fiscalização”, explicou.
Dificuldades de operação na Região Nordeste
Outro importante do evento, mediado por Elton Carvalho, gerente de Certificação de Aeronavegabilidade Continuada da ANAC, abordou os desafios enfrentados na região Nordeste. O espaço foi aberto para que os participantes locais compartilhassem as dificuldades operacionais, com destaque para as condições do Aeroporto dos Guararapes, em Recife (PE).
A pilota de helicóptero Joana Costa relatou os desafios enfrentados devido à pouca iluminação e aos obstáculos físicos no entorno do aeroporto. Já Alexandre Castelo, responsável técnico da Aero Espina, empresa de manutenção sediada em Caruaru (PE), abordou a falta de incentivos para mecânicos de manutenção aeronáutica na região e a importância desses profissionais para a segurança de voo.
Castelo iniciou sua apresentação com a provocação: “O mecânico de manutenção aeronáutica é um profissional em processo de extinção?”. Em seguida, explicou as etapas para a habilitação técnica desses profissionais — mais rigorosa, segundo ele, do que a formação de pilotos — e destacou que são eles a base da segurança de voo.
Ele também compartilhou a visão dos mecânicos sobre a relação com a ANAC, destacando que o respeito e a empatia geram uma discussão saudável. “Quem perde e quem ganha quando uma empresa de manutenção aeronáutica é fechada? Todos perdem. Por isso, é importante a interação e a troca de informações entre Agência e regulados.”
Segurança operacional na manutenção de aeronaves
O segundo dia do evento deu continuidade ao debate sobre a importância da manutenção aeronáutica na prevenção de acidentes. A palestra foi novamente conduzida por Alexandre Castelo, da Aero Espina.
Na sequência, especialistas e regulados discutiram causas e formas de prevenção de excursões de pista, destacando falhas mecânicas e a importância da manutenção rigorosa para evitar esse tipo de ocorrência.
O “Runway Excursion” foi mediado por Vinícius Figueiredo, especialista em regulação da ANAC, que apresentou um vídeo de um acidente causado por falha na decisão do piloto no momento do pouso. Ele reforçou a importância do reporte de incidentes relacionados à excursão de pista, apresentou imagens de fiscalizações em pistas degradadas e afirmou: “O que menos fazemos é lavrar autos de infração. O que mais fazemos é instruir e orientar sobre como realizar as melhorias necessárias”.
Foram apresentados casos concretos de problemas recorrentes, como uso de peças incompatíveis, falha dos freios, e situações em desacordo com o manual de manutenção da aeronave.
Sob a ótica do regulador, Clébio Felipe, gerente técnico de Certificação da ANAC, falou sobre aspectos do cálculo de performance de aviões no pouso e a importância dos tamanhos de pista para a segurança e a eficiência das operações privadas. Trouxe gráficos e exemplos aplicados à realidade da região Nordeste.
Leonardo Carrera, especialista em regulação da ANAC, reforçou a importância de registros detalhados para investigações precisas. Brunno Duarte, coordenador de Safety da Aena Brasil — concessionária do Aeroporto Internacional dos Guararapes — apresentou medidas adotadas para aprimorar a segurança aeroportuária, destacando boas práticas na prevenção de excursões de pista sob a perspectiva do operador de aeródromo.
O reuniu as visões da ANAC, de operadores aéreos e de operadores aeroportuários, enriquecendo o debate e promovendo ampla participação dos regulados.
Panorama de acidentes na região Nordeste
O coronel Veloso, do Seripa II, da Força Aérea Brasileira, apresentou dados sobre acidentes na região Nordeste e destacou a necessidade de evitar a “normalização do desvio” de regras de segurança. Explicou como atua o Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) e mostrou um panorama de acidentes no Brasil de 2015 a 2024, comparando com os dados específicos da região, segundo o Sipaer.
Ele também apontou as causas mais comuns de acidentes: perda de controle em curvas, colisões com redes elétricas, falhas de manutenção, desrespeito aos parâmetros de peso e balanceamento da aeronave e inadequação do comprimento da pista, entre outros.
No “Como implementar uma cultura de segurança operacional”, Gustavo Monastério, responsável técnico da ABA Manutenção Aeronáutica, de Barreiras (BA), defendeu que essa cultura deve ser um compromisso contínuo. “Cultura de segurança, para mim, é como uma organização se comporta quando ninguém está olhando. Deve ser praticada sempre.” Ele também destacou a importância de valorizar os mecânicos da região, fundamentais para a segurança da aviação.
Safety Case e encerramento do evento
O evento foi encerrado com estudos de caso e orientações sobre certificação, registros de manutenção e segurança operacional, incluindo análises de acidentes históricos e suas lições. Os istas foram os servidores da ANAC: Marcelo Portela, especialista em Regulação; Leonardo Carrera, coordenador de Operadores de Transporte Aéreo; e Conrado Klein, gerente de Operações da Aviação Geral.
A ANAC reafirma seu compromisso com a segurança da aviação civil e seguirá promovendo ações para fortalecer a cultura de segurança operacional no Brasil. A próxima etapa da Semana Safety será realizada em Cuiabá (MT), nos dias 13, 14 e 15 de maio.
Informações da ANAC
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