
A tensão entre a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda atinge novos patamares à medida que o governo congolês acusa o país vizinho de conduzir ataques de interferência que comprometem a segurança da aviação civil em seu território. A RDC apresentou o caso às autoridades regionais da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), clamando por “sanções apropriadas” em resposta a essas ações.
Como informa o Newsaero, em uma declaração divulgada pelo Ministério da Comunicação na segunda-feira, 29 de julho, Kinshasa informou que interferências “perigosas” foram detectadas nos sistemas de posicionamento global (GPS) de aeronaves. Esses ataques de spoofing afetaram áreas na província de Kivu do Norte, principalmente nas proximidades de Goma, incluindo as cidades de Beni, Butembo, Kibumba e Kanyabayonga.
A nota oficial ressalta que “esses atos minam seriamente a segurança do transporte aéreo civil, representando um risco significativo para todos os voos, incluindo as companhias aéreas comerciais. Além disso, colocam em perigo importantes missões humanitárias destinadas a apoiar as populações locais que são vítimas da violência perpetrada por tropas ruandesas no território da República Democrática do Congo.”
O governo congolês afirma que uma investigação técnica realizada pelos serviços competentes confirmou que a interferência é obra das Forças de Defesa Ruandesas (RDF) e seus aliados, terroristas do grupo M23. Essa afirmação foi sustentada por relatórios de atores internacionais que atuam sob mandato do Conselho de Segurança da ONU nas áreas de ajuda humanitária e operações de paz, além de organizações não governamentais internacionais.
Diante desse cenário, a República Democrática do Congo engajou formalmente as entidades regionais da ICAO para solicitar as “sanções apropriadas”. As investigações focaram particularmente nos ataques realizados pelo Movimento de 23 de Março (M23), que têm intensificado as tensões entre os dois países.
A RDC acusa Ruanda de ser a responsável pela recuperação deste grupo armado, que, segundo Kinshasa, tem contribuído para a deterioração da segurança e da situação humanitária na província de Kivu do Norte.
Embora Ruanda tenha sistematicamente negado essas acusações, diversos relatórios consistentes, incluindo o mais recente apresentado pela ONU em 8 de julho, demonstram claramente a participação de oficiais ruandeses nesta região da RDC, rica em recursos minerais.
Em janeiro de 2023, um incidente agravou ainda mais as já tensas relações entre a RDC e Ruanda. Imagens divulgadas nas redes sociais mostraram um avião militar sendo atacado enquanto sobrevoava em baixa altitude entre Goma, na RDC, e Gisenyi, em Ruanda.
O governo ruandês alegou que “medidas defensivas” foram tomadas contra um jato de combate da RDC que “violar” seu espaço aéreo, enquanto o Ministério da Comunicação da RDC condenou o incidente e negou que seu avião tivesse adentrado o espaço aéreo da Ruanda.
Além disso, em maio de 2022, a RwandAir suspendeu suas operações para a RDC em resposta à suspensão do governo congolês dos serviços da companhia na região, afetando todos os voos para Kinshasa, Lubumbashi e Goma. Essa situação ilustra a fragilidade das relações diplomáticas entre os dois países, que continuam a ser marcadas por desconfiança e tensão constante.