
O Centro de Investigações e Prevenções de Acidentes Aéreos (CENIPA) da Força Aérea Brasileira divulgou o relatório final do acidente no qual um Fokker 100 da Avianca Brasil pousou sem trem de pouso dianteiro (de nariz).
O caso aconteceu em 28 de março de 2014, quando o Fokker 100 (denominado Mk.28 na Avianca Brasil) aproximava-se para pouso em Brasília, procedente de Petrolina.
Ao acionar o trem de pouso durante a aproximação, a tripulação percebeu que o trem de nariz não desceu. Após diversas tentativas e seguindo os checklists, optou-se por um pouso sem o trem de pouso dianteiro (recolhido), que foi feito com grande sucesso e não deixou feridos.
Vale destacar que o CENIPA, assim como qualquer outro órgão (sério) de segurança de aviação civil, emite apenas recomendações e possíveis causas sobre o acidente, nunca apontando culpados, e tampouco seus relatórios podem ser usados para processos criminais, seguindo diretrizes da ICAO, agência da ONU para aviação civil o qual o Brasil é membro-fundador e signatário de acordos.
Possível causa
O relatório aponta para falhas na hinge (dobradiça) da porta direita do trem de pouso de nariz. Segundo o CENIPA, apesar de a manutenção estar completamente em dia e seguindo os manuais do fabricante, a dobradiça apresentou resistência ao ser comandada a abertura da porta.

Esta resistência pode ter sido causada por diversos fatores, sendo que não foi possível afirmar um fator determinante para esta falha. Mas dentre os possíveis contribuintes estão:
- A falta de lubrificação (apesar de ter sido feita conforme manual);
- Utilização de pinos maiores para a reparação das hinges em 2012, serviço que foi feito na própria Fokker na Holanda;
- Diminuição do orifício da própria hinge, causada por oxidação e corrosão não prevista na peça.
Com a resistência após o acionamento normal, a tripulação seguiu a checklist e acionou a alavanca alternativa para baixar o trem de pouso, que se utiliza da gravidade e do próprio peso do trem para forçar a sua descida.
Mesmo com o peso do trem de pouso sobre a porta, a hinge não se moveu e a porta direita do trem dianteiro não foi aberta. Por questão de design da Fokker, a porta esquerda só abre se a direita abrir, logo, o trem ficou travado por ambas as portas fechadas.
Sem sucesso ao acionar a alavanca de alternativa, os pilotos decidiram seguir para o pouso sem o trem de pouso dianteiro estendido, o que ocorreu sem maiores problemas. Não foi encontrada nenhuma outra anormalidade na aeronave e nem com seus tripulantes.
Acima voo de testes de outro Fokker 100 da Avianca após revisão na Holanda
Recomendações
Diante dos achados durante a investigação, o CENIPA recomendou que a Fokker e a Avianca Brasil reduzissem o intervalo de lubrificação das hinges, o que foi seguido e ou a ser feito uma vez ao ano, sendo que antes o período era a cada 3.600 horas de voo, o que poderia ultraar facilmente dois anos de operações.
Outra recomendação foi que a Fokker emitisse uma instrução de manutenção em que as portas do trem do nariz deveriam ser desconectadas das hastes de abertura e fechamento, de maneira que pudesse ser verificada a sua livre articulação, sem restrições ao movimento.
A Fokker emitiu esta recomendação aos operadores do F100 mundo afora, que realizaram os testes e afirmaram que nenhuma anormalidade foi encontrada com seus aviões, sendo o caso na Avianca, provavelmente, o único no mundo.
Por fim, o CENIPA afirmou que o programa de manutenção, estabelecido pelo fabricante, pode ter contribuído para a ocorrência ao não estabelecer parâmetros de manutenção preventiva adequados para as portas do trem, que foram modificadas por meio do retrabalho nas hinges, com a incorporação de pinos com maior dimensão radial e alargamento dos orifícios.
Você pode conferir abaixo na íntegra o Relatório Final ou baixar o mesmo clicando aqui
Vale lembrar que, após o acidente, a aeronave foi para o hangar da empresa em Brasília, e está lá até hoje, tendo sido colocada à venda recentemente, um pouco antes da oficialização da falência da empresa: